Dizem que não há mal que perdure. Discordo.
Trabalho com internet há 12 anos, quando desenvolvi o meu primeiro site de humor, em parceria com o programador Roberto Stzutski, o EsgotoNet. A página era um sucesso de público. Foram mais de 25000 acessos só no primeiro mês e tinha como meta, basicamente, jogar as bobagens que recebíamos por email no nosso Esgoto da internet. Dentre essas bobagens estavam: jogos, piadas, imagens engraçadas, charges, vídeos e áudios de humor. Mas tinha uma coisa que nos recusávamos a publicar. As malditas correntes de internet.
Hoje, uma década depois, saímos dos primórdios da conexão discada e da sua zuadinha característica (xxxxxxx roooo tiuiuiiiiii, lembra?) para entrarmos na era do “wireless almost everywhere“. Os vídeos acharam seu cantinho no youtube, as charges ganharam sites específicos, as piadas circulam nas redes sociais, os jogos ganharam portais próprios e as piadas em áudio viraram PodCasts. Só uma coisa não evoluiu: as malditas correntes de internet.
Por incrível que pareça ainda existem seres humanos acreditando que se você repassar um email para todos da sua lista, a Ericsson vai te dar um celular. Outros mandam as correntes para ajudar a pagar o tratamento de uma criancinha com câncer, cujo a idade hoje, deve estar em uns 20 a 25 anos. Os mais crédulos confiam no menino Cleto da Colômbia e em sua solicitação de reenvio do email, para ele ganhar uma quantia em dinheiro. AAAAAAAAhhhhhhh!
Agora, com o avanço do Facebook, os spammers propagam a imagem de crianças deficientes, com três pernas, com um câncer horrível no rosto, achando que com isso, o face irá ajudar a família do garoto. O povo acredita em tudo…
Como se não bastassem os emotivos, nos deparamos com os Prosélitos Divulgadores de Cristo pela internet, que lembram aquelas senhoras que chegam aos domingos, às 7 horas da manhã, buzinando em sua casa, para falar sobre “passagens da bíbria”. São tantos emails que devem ser no mínimo uma seita, pois a mensagem de Jesus chega aos borbotões nas minhas Caixas de Entrada. Gente, quem quiser ler a palavra de Deus, procura a Bíblia, tá legal? E o pior é quando mandam um anexo pesadíssimo com um powerpoint coloridinho com imagens de anjos ou bichinhos… Deus tem um plano em sua vida, meu filho, mas não é ser “spammer de Jesus”.
Outro tipo de corrente é o ameaçador: “se você não repassar essa corrente algo de ruim te acontecerá. Fulano não passou, sua mãe morreu”. Confesso só ter repassado um que falava algo sobre impotência, mas só por via das dúvidas, afinal: yo no credo en las brujas, pero que las hay, las hay.
Nunca vi uma corrente de emails indicando livros de Saramago, músicas de Vinicius, filmes de Godard ou a indicação de poesias de Neruda. As correntes são como as músicas que saem do porta-mala dos carros: fazem muito barulho, numa quantidade enorme, mas sem qualidade nenhuma. Podia ser assim: “se você não repassar essa corrente a cultura irá sofrer terrivelmente”. Ou algo assim.
O Brasil conquistou em 2011 o terceiro lugar entre os países que mais produzem Spam (emails-lixo) no mundo, atrás apenas dos EUA e da Índia. Mais um título para se lamentar.
Enfim, em debate com Papai Noel e o Coelinho da Páscoa chegamos a conclusão que as correntes de internet não funcionam e seus efeitos “non eczistem”, diria Quevedo. É um folclore como o político honesto, o metrô de Salvador e o título nacional do Vitória.
Por isso, senhores:
NÃO ENVIEM CORRENTES PARA MIM, POR FAVOR.
Contudo, aproveitando o assunto, repassem o link desse texto para toda sua lista de amigos. Se não fizerem isso… nada vai acontecer a vocês ou a alguém da sua família. Mas se fizerem, faremos um grande bem a sociedade e ao fluxo de informações úteis nos e-mails alheios.