Vivemos tempos difíceis. Tempos de uma crise econômica, moral e política sem precedente. Mais que uma crise política, existe uma crise de identidade política. As pessoas estão tendo dificuldades em definir pra que lado gostariam de ir. De um lado os que votaram na presidenta e a defende cegamente. Do outro, os derrotados de outubro passado que insistem no impeachment. O problema é que ambos estão “ambidestramente” equivocados. A eleição acabou e agora precisamos de governança. E isso exige mais que defesa de ideias.
Defender o governo cegamente é uma grande bobagem. Política não é time de futebol, apesar de tentarem pregar isso como time vermelho x time azul. Política envolve responsabilidades, vida de pessoas, nosso futuro. Defender bravamente meu Bahia contra as gozações rubronegras baianas é algo que farei sempre. Porém defender erros de gestão, é irracional. Erros devem ser cobrados sempre. Não é porque você votou no vencedor que deve se omitir de cobrar pelos erros administrativos. Pelo contrário. Deve brigar e cobrar ainda mais para que ele (a) honre o seu voto.
Como não reclamar de Joaquim Levy num governo petista? Se quiséssemos alguém como Levy, na Fazenda, teríamos votado em Aécio e ficado com Armínio Fraga. Esse foi o principal erro de Dilma. Mais que qualquer outro. Porém, não há oposição racional no Brasil e isso não foi explorado como deveria.
A oposição brasileiro se tornou um punhado de militantes de direita racionais, “haters” virtuais, defensores da volta da ditadura, odiadores do PT, parte explícita da imprensa e aquele seu amigo que não gostava de falar sobre política porque achava chato. De repente todos viraram Cientistas Políticos, como num passe de mágica, e fizeram da eleição uma das mais acirradas de todas. Porém a eleição acabou. E eles perderam. Perderam feio em quase todo o pais. E é aí que surgiu o grande problema atual: a oposição perdeu o norte e ainda ficam pensando em Cuba e ditadura comunista.
Os eleitores de Aécio tinham consciência do despreparo do Senador. Em oito anos de mandato o Senador apresentou 22 Projetos de Lei e nenhum foi sancionado. Se houvesse meritocracia ele estaria desempregado. A verdade é que Aécio não teve tantos votos, Dilma os perdeu quase todos, com erros e estratégias da sua campanha. Finda a eleição surgiu o desespero. O PSDB pediu a recontagem do voto, acesso as informações da eleição e conseguiu parte disso. Depois de quase 8 meses os peritos tucanos constataram que a eleição foi limpa. Mas aquele ato desesperado gerou incertezas na sociedade. Surgiu o delírio do impeachment. Nas passeatas na Paulista muitos acreditavam que sairia Dilma e entraria Aécio, conforme vídeo e pesquisa feita. Uma pena.
A oposição está perdendo a grande chance de trabalhar e mostrar a sociedade sua vontade de voltar ao Poder. Em quase um ano da nova gestão de Dilma, os opositores se limitaram a falar de impeachment, apoiar a megalomania de Eduardo Cunha (mesmo depois da descoberta das contas na Suíça) e criticar o governo. Não surgiu nenhum novo nome oposicionista capaz de dizer: “precisamos mudar ou vamos quebrar de vez. Sejamos racionais. Vamos apresentar soluções diferentes das do Governo e alterar o cenário econômico.” A oposição vive do “quanto pior, melhor”, esquecendo que seus eleitores irão sofrer também com a crise e irão cobrar deles, também, nas eleições de 2016.
Enquanto não surge uma oposição racional, as pessoas se afastam da política e vivem de compartilhar memes e bobagens sobre a presidente. São os que dizem: “nem PSDB, nem PT. Não temos partido político. Somos contra a roubalheira que está aí.” Esses indignados online são um número cada vez maior e por falta de representatividade (e de um partido) irão tentar mudar o mundo com posts de facebook e correntes de whatsapp. Propagarão mentiras absurdas, sem nem ao menos questionar se é real ou não a informação. Vale tudo. E muitas vezes são enganados por pessoas de índole mais rasteira que a dos políticos.
Não se muda um país com manifestações na Paulista, apenas. Só mudaremos com novos políticos e mais prisões das “velhas raposas”. Mas enquanto você ficar nas redes sociais, essa mudança ficará apenas no campo do virtual. Se querem mudar o país, mudar o governo, é preciso mudar a atitude. Eleição se ganha com votos conquistados e não no tapetão. Ou a oposição muda, ou continuará na oposição até 2022. E com Serra isolado, Alckmin ganhando prêmio por gestão hídrica e as torneiras paulistas secas e Aécio perdendo cada vez mais o respeito que os votos lhe concederam, não há nomes no PSDB capaz de encarar o PT nas próximas eleições. Que surjam novos, então. Mas esperar que a oposição se mantenha com nomes como Lobão, Alexandre Frota, Wanderley Silva, Bolsonaro, Kim Kataguiri, Revoltados Online, Sheherazade, Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo e Latino, é brincadeira…