1º) O surgimento de novas tecnologias da informação – O grande furo de reportagem aparece primeiro na internet para só depois alcançar a grande massa através das TVs. No episódio da morte de Michael Jackson, fiquei sabendo da informação por um SMS enviado pelo meu cunhado, solicitando confirmação do fato. Na mesma hora, no escritório, colocamos três notebooks conectados a portais de informação: Terra, Globo e LATimes. A confirmação chegou primeiro por um site de revista de fofoca americana. Apertávamos o F5 para atualizar as telas concomitantemente. Dentre a mensagem e a confirmação da morte não se passaram mais de 40 minutos.
3º) Todos querem conforto e flexibilidade nos horários – Por que sair correndo para casa para ver o casal Bonner divulgando suas notícias mastigadas ao seu público (“carinhosamente” batizado de Homer Simpson por William), se podemos chegar bem mais tarde e assistir a tudo pela internet, com comentários dos internautas, fórum de discussões e análises críticas de diversos jornalistas sobre as notícias e outras formas de interação?
4º) O baixo nível das novelas – Não me refiro somente à toda poderosa Rede Globo, englobo todas. Todas as mulheres da minha família marcavam seus compromissos com quem quer que fosse somente depois da novela das oito. Perder um capítulo era ter a certeza de não saber o que dizer no dia seguinte na roda de amigas do salão de cabeleireiros. Hoje, essa mesma mulherada quase não acompanha às novelas. Talvez, por causa da repetição ou mesmo falta de criatividade dos autores e do público também. Lembro que durante a novela A Favorita o autor teve de mudar a novela e apresentar logo a vilã, pois o público estava deixando de ver a novela por causa da falta de um posicionamento mais direto dos personagens.
6º) Mais ensino, menos novela – Com a proliferação das faculdades particulares, milhões de jovens e adultos passaram a trocar o conforto da poltrona por uma cadeira de estudante universitário noturno.
7º) O direcionamento do assunto – De que me importa se a chuva no Nepal acabou com a plantação de arroz ou ainda se um ursinho ficou preso no gelo no Alaska? Essas informações, apesar da minha comoção com os plantadores e com o pobre animal, não acrescentam nada à minha vida. Preferiria ver Nizan Guanaes e Washington Olivetto falando sobre as projeções de 2010 e 2011 para o mercado publicitário. A internet nos dá essa possibilidade de escolha de programação. Vamos atrás daquilo que realmente nos interessa e não ficamos passivos, hipodermicamente recebendo notícias. Somos muito mais que a mão no controle remoto; somos os senhores da programação, quase o editor-chefe da redação. Selecionamos o que nos interessa e não perdemos tempo com o pobre urso.
Todos esses tópicos serviram apenas para mostrar que o horário nobre, apesar de sustentado por muitos especialistas, simplesmente morreu (ou anda agonizando). Hoje, para o terror dos analistas de mercado, quem faz o horário nobre é o próprio público. Conheço pessoas que não sabem nada sobre as TVs fechadas e têm pavor da TV aberta. Uma professora confessou-me que não tem televisor em casa, pois enxerga a programação televisiva como um aparelho de manipulação. Esse grande ditador de verdades com antenas, apesar dos esforços em se renovar, parece perder cada vez mais espaço. Não vai acabar, obviamente, mas perderá ainda mais a sua importância ao longo dos anos.
O horário nobre, caros amigos, quem faz somos nós. Onde você lê suas notícias? O que você procura para se distrair? E, o principal, qual o seu horário disponível para a televisão?
Atentemo-nos, senhoras e senhores, para essa informação. Horário nobre, agora, é algo quase particular. Cada um tem o seu. O meu, informo a grande mídia que queira me encontrar preso em frente à TV, está localizado entre 22:30h e 2 horas da manhã. E o seu?
Por Erick Cerqueira
Extraído do Observatório da Imprensa
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=547TVQ002